Conhecimento
O PRIMEIRO PRESIDENTE NEGRO DO BRASIL
Espera, o Brasil teve algum presidente negro? Mas é claro, o Brasil já teve um presidente negro, conhecido pelo nome de Nilo Peçanha.
O Brasil já teve um presidente negro! Tudo bem, não era negro negro negro, negão assim,mas era mulato, bem mulato.
Ele sempre soube que ele era mulato, mas por uma questão racial clara e nítida do Brasil, ele nunca assumiu plenamente a sua negritude.
É só estudar, não apenas as fotografias, não apenas as feições, não apenas o cabelo, mas a trajetória do Nilo Peçanha, e tudo que aconteceu com ele desde o nascimento até a morte, pra você saber que sim, o Brasil teve um presidente negro, e se não negro, repetindo, mulato,bem mulato.
E o melhor de tudo, sabe o que que é? É que assim que ele assumiu a presidência,ele declarou: “vou fazer um governo baseado na paz e no amor“.
Hein, não é lindo? É!Claro, ele só podia ter nascido em 67, no verão do amor.
Tá, foi em 1867, foi no dia 10 de outubro de 1867, era um libriano o Nilo Peçanha.
Nilo Peçanha era vice-presidente e acabou assumindo a presidência, então também já fica uma coisa diferente, mas foram vários vices que assumiram na história do Brasil,vários desses vices tiveram momentos de grande turbulência, outros nem tanto, lembrando que né, Sarney era vice, lembrando que Itamar era vice, né, e o Nilo Peçanha era vice do Afonso Pena.
O Afonso Pena era um mineiro que segundo um dos seus inimigos tinha sido um funcionário público promovido por abandono de emprego.
Porque o Afonso Pena tinha sido vice-presidente anteriormente, não tinha feito nada, tinha ficado morando na fazenda dele em Minas Gerais, depois foi eleito presidente, né.
Mas cara, isso não é sobre o Afonso Pena, né, talvez algum dia eu me rebaixe a fazer algo sobre o Afonso Pena, mas o fato é que o Afonso Pena morreu de desgosto durante o seu mandato.
Ele morreu em julho de 1909, quando ainda faltavam dezessete meses para o encerramento do seu mandato.
Ele morreu por uma série de motivos mas o principal deles foi que ele morreu de desgosto pela morte do filho mais velho.
Mas ele também morreu porque ele foi desafiado pelo seu próprio ministro da Guerra, o Hermes da Fonseca, que era sobrinho do marechal Deodoro da Fonseca, né, que entrou no gabinete presidencial no palácio do Catete, bateu com a espada na mesa e disse “eu serei o próximo Brasil”!
Porque havia aquele esquema de alternância no poder, né, de presidentes paulistas com mineiros, era o esquema do café com leite, tão bem urdido, tão bem articulado pelo Campos Sales, e que poderia demorar, durar por toda a eternidade, se não tivesse começado a sofrer as suas fissuras, primeiro nesse governo do Afonso Pena, que quis fazer o seu sucessor um mineiro, sendo que era já ele mineiro.
Mas o cara morreu.
Daí ele mesmo assim tentou um outro sucessor, um tal David Campista, que era o Ministro da Fazenda dele,né.
Criou uma grande celeuma entre os partidos republicanos do Brasil e o Hermes da Fonseca,que era do Partido Republicano Conservador e era ministro da Guerra do Afonso Pena, disse “não, o presidente vou ser eu, vou ser eu, vou ser eu!”, dizem que foi uma briga ali no palácio do Catete, e o Afonso Pena começou a ficar meio triste, morreu o filho dele e ele poft, bateu as botas.
E o vice dele era o Nilo Peçanha.
Nilo Peçanha já tinha sido deputado constituinte na Constituição de 1891, ele tinha sido deputado pelo Rio de Janeiro, ele tinha sido presidente da província do do do, é, ele tinha sido presidente do Rio de Janeiro, na época se chamava assim, presidente de estado, e tinha sido um ótimo presidente.
A história dele é a seguinte, ele nasceu em Campos, Campos dos Goytacazes, né, na cidade de Campos, que ainda está aqui no mesmo lugar aqui no norte do Rio de Janeiro, e ele era filho cara, do cara chamado Sebastião da Padaria.
É, o pai dele se chamava Sebastião de Souza Peçanha e era padeiro, e se chamava,era conhecido como Sebastião da Padaria.
E a mãe dele era Joaquina Sá Freire, e ele nasceu no Morro do Coco, né, tanto é que ele seria várias vezes chamado, principalmente pela elite canavieira de Campos de “o mulato do morro do coco”.
E ele próprio disse que foi criado, cara, a base de pão dormido e paçoca.
Era uma família de classe média baixa, era uma família pobre, talvez nem fosse classe média baixa, né cara, fosse pobre, pobre mesmo.
Mas o Nilo Peçanha desde o início cara, foi um cara determinado, foi um cara focado, foi um cara disposto a subir na vida pelo próprio esforço, e mesmo tendo estudado em escola pública, ele conseguiu entrar na faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo, que formou tantos políticos e tantas pessoas importantes na história do Brasil.
Mas ele saiu dessa faculdade e foi pra faculdade do Recife, que também foi o outro polo que formou bacharéis, que formou advogados, que formou pessoas ligadas ao judiciário que se envolveram na política no Brasil.
E ele se formou como advogado na faculdade do Recife, veio pro Rio de Janeiro, e se ligou evidentemente nas causas abolicionistas,era óbvio, lutou bastante pela abolição e aí depois se vinculou ao Partido Republicano,apoiou o golpe militar republicano de 1889, e aí foi eleito deputado constituinte em 1890, participou da Constituição, e aí depois foi deputado pelo Rio de Janeiro, aí foi presidente do Rio de Janeiro em 1903, dizem que fez uma administração impecável,impecável, foi um dos melhores governadores da da da, na época chamava presidente, já falei, do Rio de Janeiro.
Depois, em 1906, se reelegeu outra vez, até que resolveu então concorrer como vice-presidente na chapa do Afonso Pena, foi eleito com grande margem de vantagem, e aí teve que assumir a presidência.
Assumiu a presidência com o país rachado,com o país problemático, e sua primeira declaração foi “farei um governo baseadona paz e no amor”.
Não é sensacional, não é maravilhoso? Os hippies roubaram essa frase do extraordinário Nilo Peçanha! E na verdade é o seguinte, cara, foi um certo disfarce, porque embora ele tenha sido o primeiro presidente realmente populista, popular, popular e populista, porque ele costumava percorrer os bares, percorrer as lojas do centro do Rio de Janeiro, falava com todo mundo, era muito bem quisto pelo povo de várias camadas ã sociais, né, ele ao mesmo tempo era um político ardiloso, uma raposa, porque ele sabia agir com a mão forte de um caudilho, mas isso por debaixo das cortinas, porque ele, ele atacou fortemente os seus, os seus adversários políticos, se livrou deles,e ele teve que comandar com mão de ferro, embora disfarçadamente, um país bastante tumultuado.
Mas eles nesses 17 meses conseguiu de certa forma apaziguar o país.
Porém,porém, né, ele rompeu com o Partido Republicano Paulista e ele rompeu com o Partido Republicano Fluminense, né, do qual ele tinha sido fundador, e se aliou cara, com o Partido Republicano Conservador, apoiando o Hermes da Fonseca contra o Rui Barbosa.
É, algum dia eu vou fazer aqui um episódio sobre as eleições de 1910, que foram as eleições mais polarizadas da história do Brasil, mais polarizada que Lula e Collor em 89, mais polarizada que o poste, a coisa e o coiso em 2018, e que botou de um lado a pena, o Rui Barbosa, a pena de peninha, de escritor, e a espada, que era o Hermes da Fonseca.
Ganhou evidentemente a espada, com o apoio do Nilo Peçanha, com o apoio do Nilo Peçanha.
Então mesmo sendo o Nilo Peçanha o nosso primeiro presidente quase negro, o nosso primeiro presidente mulato,o nosso primeiro presidente popular, ele também.
Só porque ele era mulato ou quase negro não significa que a gente vá, politicamente correto dizer, “não, que maravilha que foi o Nilo Peçanha”.
O Nilo Peçanha não foi uma maravilha! Mas teve um lado que foi um avanço com relação a vários outros presidentes, né.
A questão é que ele nunca conseguiu assumir plenamente a sua origem negra.
Nunca conseguiu, porque não havia a menor condição.
Porque cara, ao que tudo isso está ligado ao casamento dele, e a própria ascensão política dele está ligada também ao casamento, deveria talvez ter falado isso antes, porque ele casou em 1888 com a Anita, a Ana de Castro Soares de Souza, que era neta de visconde e bisneta de barão, da alta aristocracia de campos, só que pra casar com ele a Anita teve que fugir de casa, o pai teria morrido de desgosto e a mãe nunca falou com ela,até a morte do Nilo Peçanha, porque disse “vai casar com o mulato do morro do coco”,e as charges, os deboches que se faziam a ele, especialmente em campos, mas também no Rio de Janeiro antes dele se firmar como uma força política inatacável, eram evidentemente de cunho racista, né.
Mas o grande historiador Alberto Costa e Silva, atual, tá vivo ainda,genial, talvez junto com o Evaldo Cabral de Melo, o maior historiador brasileiro vivo,tem 90 anos de idade, ele diz que não foi só o Nilo Peçanha que escondeu suas raízes negras! Que o Rodrigues Alves, o Campos Sales e o Washington Luis também tinham “um pé na cozinha”, pra usar a expressão que o FHC usou, só que daí usou com grande orgulho,”ah, eu tenho um pé na cozinha”, blablablá blablablá, que aliás nunca ficou plenamente confirmado esse pé na cozinha do FHC, né.
Mas com certeza ficaram confirmados os pés na cozinha de Rodrigues Alves, Washington Luis.
Mas o maior desses era evidentemente o do Nilo Peçanha, que nunca pôde fazer nenhuma campanha pró negritude porque os tempos eram outros, né, 1910, 1911, 1912.
De qualquer forma, e pelo outro lado, ele criou o primeiro movimento personalista na história do Brasil.
É! Ele criou o Nilismo.
Não é sensacional? Nilismo! Calma, que não é niilismo, né, é nilismo! Eram os caras que eram seguidores do Nilo Peçanha, e seguidores fanáticos do Nilo Peçanha.
E que afrontavam os seus inimigos políticos, especialmente os bacquistas, do tal Alfredo Bacques, que hoje ninguém mais sabe quem é, que era o grande inimigo político do Nilo Peçanha.
Durante o seu governo o Nilo Peçanha criou o Serviço de Proteção do Índio, que deu origem a Funai, porque ele era muito amigo do marechal Rondon.
E além de fazer o Serviço de Proteção ao Índio, ele também criou a primeira escola de aprendizes e de ofícios do Brasil, porque ele dizia “o Brasil atual saiu das academias,o Brasil do futuro sairá das oficinas.
E aí ele criou esse serviço de aprendizagem que depois daria origem a essas escolas técnicas.
E ele também criou o primeiro ministério da agricultura do Brasil.
Então ele se manteve durante 17 meses na presidência, não governou num reinado de paz e amor, um governo de paz e amor como falou, mas conseguiu apaziguar a nação, embora tenha feito essa opção estranha pelo Hermes da Fonseca, né.
Aí ele sai do Brasil, volta anos depois, é eleito de novo como presidente do Rio de Janeiro em 1914, né, e aí morre, em 1924, com 56 anos de idade, e quando ele morre, aí sim, uma manifestação de muitos nilistas mulatos e negros realçando essa origem racial dele.
Então essa é a história de nosso primeiro presidente negro, um homem de paz e de amor.
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